segunda-feira, 29 de março de 2010

Escute o silêncio

Escute o silêncio.
Por mais estranho que pareça escutar quando nada faz barulho
Escutar quando ninguém fala
Escutar quando nenhuma música toca e até quando os mosquitos param de zumbir.
Os ventos não se explodem entre galhos, a água não pinga pra gente dormir e nem o cachorro late na rua.
Escute o silêncio.
Tudo para, nenhum som é emitido e a gente escuta o que não existe.
Nada faz barulho, e a gente escuta.
E nesse silêncio mais profundo, a nossa respiração parece ventania, o choro parece tempestade e o coração bate como bateria.
Ouça o silêncio invadindo seu âmago.
Ouça o silêncio e sinta-se leve.
Flutue quando nenhum barulho existir.
Deixe o silêncio entrar, inspire sua serena sensação, feche os olhos e sinta.
Escute o silêncio



sexta-feira, 12 de março de 2010

Tabuleiro de quadradinhos

Meu pai me deu um jogo novo, daqueles que vendem lá na feira da cidade. Trouxe ontem, embrulhado num papel vermelho. E quando eu vi aquele embrulho e o sorriso que lançou, sabia que tinha coisa boa ali.
E num é que teve.
Era assim, de madeira, com vários quadradinhos pintados, tantos que até perdi a conta. Mas os quadradinhos ou eram brancos ou eram pretos. Meu irmão já gritou que era um tabuleiro de xadrez, só porque ele não tinha ganhado um igual. E se é de xadrez ou não, eu nem sei. E nem importa. Eu só queria saber que aquele jogo ali era meu e que ninguém mais ia brincar com ele.
Meu, só meu! O tabuleiro e todas as pecinhas brancas e pretas que tavam ali. Só meu.
Ai meu pai me ensinou a jogar um jogo. Disse que daquele tabuleiro muitos outros jogos poderiam nascer.
Um dia eu aprendi um com a vizinha que mora embaixo do meu apartamento. Outro dia eu inventei um com a Lê, lá na escola e mais outro dia ainda eu joguei o primeiro jogo que aprendi com meu pai.
Sabe o que eu mais gostava nesse jogo? Eu podia levar pra qualquer lugar. Era tão pouquinha coisa, só um tabuleiro de quadradinhos e umas pecinhas. Tão fácil e levinho.
Só aquilo ali, um tabuleiro de quadradinhos brancos e pretos com pecinhas pra fazer o que a gente quiser.

sexta-feira, 5 de março de 2010

Mais que mãos

E aquele dia ela respirou fundo.
Eles se encontraram por acaso num lugar badalado da cidade e sorriram.
Não trocaram muitas palavras, não pediram explicações, nem prestaram atenção no que estava acontecendo ao redor.
Aquele dia ele segurou a mão dela.
E eles se entenderam com alguns olhares, entre vários olhares.
Os dedos se entrelaçaram e ficaram encaixados, como se soubessem desde o início o que fariam.
Ela sorriu.
Ele olhou.
E as mãos continuaram ali, unidas, grudadas.
Compreendidas.
Bastou para que o lugar badalado perdesse a graça. O maior envolvimento estava ali, nas mãos dadas e nos olhares trocados.
Sem falas, sem som, sem soltar.
A mão pequena de unhas azuis estava delicadamente segura. Fortemente protegida. Docemente cuidada
A mão grande estava sutilmente acalentada. Apaixonadamente acariciada. Bravamente ligada
Grande e pequena, completas.
Ela olhou, ele sorriu.
E ela entendeu que a mão dele estaria sempre ali.

quinta-feira, 4 de março de 2010

Preparado?

JÁ!

Corre.
Não para. Continue correndo.
Corre mais.
Corre depressa.
Passa por um, passa por dois, vire a direita
Mas corre.
Enfrente a chuva.
Aguente o sol.
Corra mais.
Corre rápido. Corre distante. Corre além.
Continue.
Não para.
Pula aquele e outro também
Corre.
Não olhe pro relógio. Não conte os dias.
Não fale com ninguém.
Corre.
E respira fundo, é logo ali.

segunda-feira, 1 de março de 2010

Um dia por aí

Segunda taça de champagne.
Mandei uma mensagem: "Vem pra cá". Assim, bem objetiva.
As duas taças bastaram pra lembrar a saudade que eu sentia.
"De verdade?"
"De verdade. Vem"
10 minutos, mais uma taça.
- Que bom que você veio...
- Nunca recusaria um convite seu
Beijos.
Beijos intermináveis.
Abraços.
Abraços calorosos.
Olhares. Risadas. Beijos.
Momentos nossos, para não dividir com ninguém. Momentos sem fotos, registramos apenas em nós.
Beijos.
- Vai embora, preciso dormir...
(...)
- Para! Vai embora! Agora...
(...)
- Não me beija assim. Vai embora, é sério...
Alguns passos, uma esbarrada na porta e outra parada no corredor.
- Para com isso! Vai embora agora.
- Tudo bem, eu vou, me dá só mais um beijo então.
(...)
- Chega! Sai daqui...
(...)
Eu, entre ele e o guarda-roupa.
Eu, entre ele e a cama.
Beijos intermináveis.
- Fecha a porta...