segunda-feira, 21 de março de 2011

Carta para o futuro amor

Belo Horizonte, num tempo não muito distante (eu espero!)

Oi futuro namorado,
Resolvi escrever mesmo sem te conhecer. Uma carta te contando um pouquinho de mim, das coisas que eu gosto e algumas outras que são fatais.
Sabe, eu não sou muito boa com cartas assim. Não sou muito boa com declarações e nem demonstrações... Aliás, eu sou muito boa! Mas eu preciso de tempo. Então, não cobre muito romantismo no começo, nem exija muito. Estou aprendendo a ceder o meu espaço, minhas coisas, meus momentos e isso não é muito fácil pra mim. Aos poucos eu chego lá, juro.
E aos poucos você descobre que eu demonstro o que sinto de outras formas. Prepare-se para jantares, surpresas, presentes e muitas festas.
Prepare-se também para muita sinceridade (e espero o mesmo de você). Às vezes vou acordar querendo ficar sozinha e vou pedir abertamente pra você respeitar. Não precisa criar coisas na sua cabeça, nem achar que eu não gosto mais de você. Eu sou assim mesmo. Meus amigos até falam que sou de outro planeta.
Falando nos amigos, goste muito deles. Principalmente das meninas. Se você conquistar o meu grupo de amigas, vai garantir defesa em vários momentos. E outra, vai ter as amigas mais legais do mundo.
Voltando na sinceridade... Vamos combinar uma coisa? Nada de mentiras! Por favor. Não importa o quanto me machuque, me fale sempre a verdade. Outra coisa, nada de ciúmes, ok?! Isso pode acabar com a nossa relação.
E não me prometa nada que você não consiga cumprir. Você não precisa fazer promessa nenhuma. Mas se fizer, dê um jeito de colocar em prática. Tenho um sério problema, crio expectativas demais e me decepciono muito quando fico frustrada.
Em contrapartida, é muito fácil me agradar. Adoro coisas simples, como uma caminhada na praça, um domingo andando de bicicleta ou um filme em casa. Gosto de ser surpreendida, de sair da rotina, de mudar os planos em cima da hora e fazer o que der vontade.
Você deve ser muito divertido e muito criativo pra ter me conquistado. E tem um sorriso lindo também, aposto!
Desculpa se eu fui muito chata com você ou se fiquei um tempão conversando antes de aceitar sair com você. Prometo que vou fazer valer a pena.
Só mais duas coisinhas: não fale comigo com voz de bebê, tá?! E não se esqueça das datas! Nem do meu aniversário, nem do nosso aniversário de namoro...
Você é muito especial e me fará muito feliz!

Beijos.
Gabi

ps.: Essa carta surgiu de uma conversa com a Cami Fiamoncini. Ela também escreveu uma, que você confere aqui: A, Bê, Cê de Cami

Uma boa lembrança


No final de sua vida ele não sabia muita coisa. Não lembrava nomes, não diferenciava cores, sabores e cheiros. Não respondia por si, não sabia das suas vontades, nem se o sol brilhava lá fora.
Não sabia se sim. Não sabia se não.
Passava dias e dias sentado, na mesma posição, olhando para o mesmo cenário.
Um dia sentei ao seu lado e perguntei qual era a sua melhor lembrança. Esperei qualquer resposta sem sentido, até que ele começou:
- Minha melhor lembrança é essa janela. Durante dois anos eu fazia serenatas para a mulher mais linda da cidade. O pai dela não permitia o nosso namoro, mas isso não me desanimou. Duas vezes por semana eu pegava a minha bicicleta e meu violão e declara tudo o que eu sentia. E enquanto a música rolava, uma silhueta perfeita se destacava na cortina, até que eu conseguia ver aqueles cabelos voando com a brisa suave. Sentia seu perfume lá de baixo e me achava o homem mais feliz da Terra quando ela sorria e acenava para mim.

Algumas coisas não são destruídas com o tempo. Algumas lembranças nunca são apagadas.