segunda-feira, 21 de março de 2011

Uma boa lembrança


No final de sua vida ele não sabia muita coisa. Não lembrava nomes, não diferenciava cores, sabores e cheiros. Não respondia por si, não sabia das suas vontades, nem se o sol brilhava lá fora.
Não sabia se sim. Não sabia se não.
Passava dias e dias sentado, na mesma posição, olhando para o mesmo cenário.
Um dia sentei ao seu lado e perguntei qual era a sua melhor lembrança. Esperei qualquer resposta sem sentido, até que ele começou:
- Minha melhor lembrança é essa janela. Durante dois anos eu fazia serenatas para a mulher mais linda da cidade. O pai dela não permitia o nosso namoro, mas isso não me desanimou. Duas vezes por semana eu pegava a minha bicicleta e meu violão e declara tudo o que eu sentia. E enquanto a música rolava, uma silhueta perfeita se destacava na cortina, até que eu conseguia ver aqueles cabelos voando com a brisa suave. Sentia seu perfume lá de baixo e me achava o homem mais feliz da Terra quando ela sorria e acenava para mim.

Algumas coisas não são destruídas com o tempo. Algumas lembranças nunca são apagadas.

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