terça-feira, 29 de setembro de 2009

A verdade nua e crua (I)

Terça feira, 12 de setembro.
Ele saiu do trabalho e foi direto pra casa, tinha um compromisso. Tomou um banho demorado e aparou a barba. Escolheu uma das várias blusas pretas que tinha no armário, se perfumou e calçou seu tênis novo. Entrou no carro e escolheu a música certa para aquele momento.
Já tinha feito a reserva no Vecchio Sogno e até escolhido o vinho. Um vinho tinto encorpado, Cabernet Sauvignon. Tudo preparado para uma noite perfeita.
Passou na casa dela e seguiram para o restaurante. Ela estava encantada com o cara que esperou do lado de fora do carro, só para abrir a porta e entregou um botão de rosa.
- Você está linda, Tatiana.

Quarta feira, 13 de setembro.
Ele saiu do trabalho e foi direto pra casa. Tomou um banho e aparou a barba. Escolheu outra das várias blusas pretas que tinha no armário e se perfumou. Entrou no carro e colocou a mesma música da noite anterior.
A reserva no Vecchio Sogno estava confirmada e o mesmo Cabernet Sauvignon separado. Tudo preparado para outra noite perfeita.
Passou na casa dela e seguiram para o restaurante. Ela estava encantada com o cara que esperou do lado de fora do carro, só para abrir a porta e entregou um botão de rosa.
- Você está linda, Dani.


Quinta feira, 14 de setembro.
Tomou um banho e escolheu outra das várias blusas pretas, se perfumou. Entrou no carro e colocou a mesma música. Foram para o mesmo restaurante e beberam o mesmo vinho. Tudo preparado para outra noite.

Passou na casa dela. Ela estava encantada com o cara que abriu a porta do carro e entregou um botão de rosa.
- Você está linda, Paula.

sexta-feira, 18 de setembro de 2009

Nada convencional

Elas se conheceram numa noite, em algum aniversário por aí e já caíram na gandáia. Uma noite despretensiosa, só para fugir de alguns problemas. Eram quatro meninas querendo se divertir, e nada mais.
Ignoraram até o fato de serem quase as primeiras a chegar na festa. Ignoraram o fato dos seguranças ficarem olhando. Ignoraram tudo. Só não ignoraram a presença de uma outra garota.
Sozinha, num canto da boate, bebendo uma cerveja. No mínimo estranho. É bem difícil encontrar uma mulher que encare uma balada sozinha. Cinema, show, teatro...até vai, mas balada, não dá!
Do grupinho das quatro meninas, uma resolveu ser solidária e se socializar. Contra a vontade das outras, que fizeram um julgamento antecipado péssimo (qual é a primeira coisa que pensamos quando vemos uma mulher sozinha numa boate?!) ela foi:
- Oi...
- Oi!
- Tudo bem?
- Tudo e com vc?
- Também. Você está esperando alguém?
- Não, estou sozinha...
- Sério? Sozinha mesmo? Que coragem! Admiro gente de atitude...
(as outras três da turma, que ficaram afastadas, faziam sinais frenéticos para que a amiga saisse dali, mas não adiantou...)
- É, não é muito comum, né?! Mas eu estou precisando me divertir. Terminei um relacionamento recentemente.
- Ah é?!
(outra garota da turma se aproxima, afinal, a solitária parece legal. As outras continuam desconfiadas)
- É...
- E você tá bem? Ou está sofrendo? Ainda gosta dele?
- Estou sofrendo muito. Amo ele.
- Nossa, então por que você não tenta ficar com ele? Conversa com ele...
- Ah, não dá...
- Por que?
- Ele descobriu que eu sou homem.

segunda-feira, 14 de setembro de 2009

Há um mês

Há um mês era o meu baile de formatura. Acordei tarde, ainda com os olhos meio inchados da alergia que tive dois dias antes. Mas aquele era O dia, se os olhos continuassem inchados, eu compraria um óculos maravilhoso para a festa.
Sai de casa e fui ajeitar os últimos detalhes. Entregar os últimos convites, comprar o que faltava, resolver coisas da comissão. Sai para sentar na praça e não pensar em nada. Não queria que nada saísse errado e não queria ficar nervosa. Fui pra casa, descansei, revi amigos queridos que há algum tempo eu não encontrava. Falei ao telefone.
Há um mês eu saia de casa chorando porque estava atrasada pro salão. E descobria que teria que esperar 1 hora para ser atendida. Li todas as Caras, Contigos e Quem daquele mês. Fiquei confusa com o que faria no meu cabelo e vi, frenéticamente, milhares de revistas de cabelo. Meu celular não parava de tocar e eu já não queria falar com ninguém. Minha barriga queimava, minha mão suava e eu estava completamente inquieta.
Há um mês eu me olhei no espelho e me achei realmente linda. O cabelo estava perfeito, a maquiagem estava fantástica, o vestido tinha sido feito no meu sonho. E eu estava muito feliz.
Há um mês eu me equilibrei num salto de 15 centímetros e fiz TUDO que eu queria fazer. Curti a festa do jeito que eu queria curtir. E valeu a pena. Dancei como se ninguém me olhasse, cantei como se nem tivesse banda, ri até sentar no chão.
Há um mês eu me jogava em certos braços, como se não existisse mais nada.
E valeu a pena. E eu estava muito feliz.

Sempre há tempo

E se você tivesse mais cinco horas no seu dia?

E se fossem nove os dias da semana?

E se as pessoas voassem, os animais falassem e as plantas dançassem?

O tempo está passando. E o que você está fazendo?

O tempo vai passar, filhos vão nascer e crescer, o mundo vai girar e seu coração continuará a bater.
Você vai amar, vai construir e vai sonhar.
Vai?
O tempo está passando. E o que você está fazendo?
Recomece, mas nunca deixe de voar. Sempre há tempo para se transformar
Sutileza.
Sempre há tempo para SE transformar.

sexta-feira, 11 de setembro de 2009

Podia, mas não teria história

Podia ser só mais um dia de verão. Podia ser só mais um dia que o sol nasceria atrás daquele prédio. Só mais um dia de vento. Só mais uma música no playlist.
Ela subiu a rua com um destino certo, não estava muito animada, a sua intuição sempre jogava as proposições para baixo, mas foi. Eram dois quarteirões de caminhada até chegar ao carro. Quando sentou e ouviu o barulho do motor, pensou novamente. E novamente.
Com o celular na mão, fazia muitas ligações ao mesmo tempo e não completava nenhuma delas. Ou não queria completar.
Podia ser só mais uma festa. Só mais um bando de gente no meio do nada. Só mais uma.
Os sentimentos e reflexos se misturavam com os medos e ansiedade. O carro parou. Neste momento ela teve um pouco mais de certeza de que deveria ter ficado em casa. Mas respirou fundo e seguiu em frente, não dava mais pra voltar.
Encontrou com amigos, encontrou conhecidos e não encontrou alguém. Ou não reconheceu. Podia ser só mais uma noite legal. Mas foram desencontros pessoais, quando as pessoas que estão ali, não estão ali. Confuso. Ela quis correr, quis chorar, quis ligar para todas as pessoas que tentou falar no meio do caminho. Não fez nada. Ninguém fez nada. Todo mundo cruzou o braço, e só. A menina ficou se fazendo muitas perguntas e se culpando por não seguir a intuição. No auge da noite ela se sentia a pessoa mais sozinha do mundo, no meio de milhares.
Ela só quis um abraço. Mas não encontrou braços estendidos. Não encontrou olhares correspondidos, não encontrou consolo.
Voltar nem sempre é fácil. Sentar no mesmo carro, ligar o som e continuar ouvindo a música que ficou pausada, chegar em casa e encontrar tudo igual, se sentindo completamente diferente.
Voltar no começo teria evitado acontecimentos, aborrecimentos e luzes.
Mas se ela voltasse no começo, não teria história.