sexta-feira, 11 de setembro de 2009

Podia, mas não teria história

Podia ser só mais um dia de verão. Podia ser só mais um dia que o sol nasceria atrás daquele prédio. Só mais um dia de vento. Só mais uma música no playlist.
Ela subiu a rua com um destino certo, não estava muito animada, a sua intuição sempre jogava as proposições para baixo, mas foi. Eram dois quarteirões de caminhada até chegar ao carro. Quando sentou e ouviu o barulho do motor, pensou novamente. E novamente.
Com o celular na mão, fazia muitas ligações ao mesmo tempo e não completava nenhuma delas. Ou não queria completar.
Podia ser só mais uma festa. Só mais um bando de gente no meio do nada. Só mais uma.
Os sentimentos e reflexos se misturavam com os medos e ansiedade. O carro parou. Neste momento ela teve um pouco mais de certeza de que deveria ter ficado em casa. Mas respirou fundo e seguiu em frente, não dava mais pra voltar.
Encontrou com amigos, encontrou conhecidos e não encontrou alguém. Ou não reconheceu. Podia ser só mais uma noite legal. Mas foram desencontros pessoais, quando as pessoas que estão ali, não estão ali. Confuso. Ela quis correr, quis chorar, quis ligar para todas as pessoas que tentou falar no meio do caminho. Não fez nada. Ninguém fez nada. Todo mundo cruzou o braço, e só. A menina ficou se fazendo muitas perguntas e se culpando por não seguir a intuição. No auge da noite ela se sentia a pessoa mais sozinha do mundo, no meio de milhares.
Ela só quis um abraço. Mas não encontrou braços estendidos. Não encontrou olhares correspondidos, não encontrou consolo.
Voltar nem sempre é fácil. Sentar no mesmo carro, ligar o som e continuar ouvindo a música que ficou pausada, chegar em casa e encontrar tudo igual, se sentindo completamente diferente.
Voltar no começo teria evitado acontecimentos, aborrecimentos e luzes.
Mas se ela voltasse no começo, não teria história.

Um comentário:

Luana Carvalho disse...

Adorei, Gabis. Sabe, todos os dias, quando eu me pergunto o que estou fazendo aqui, eu chego a essa mesma conclusão: "podia não ter vindo, mas não teria história". Lindo seu texto. bjinhos