Era sábado, e estava muito frio. Foi super difícil criar coragem para sair da cama, ela estava muito aconchegante com todos aqueles travesseiros. Minhas melhores companhias desde que terminei com meu ex-namorado.
Desci as escadas e preparei um café bem forte. A balada de sexta foi ótima, mas exagerei no álcool. Não havia ninguém de interessante naquele lugar para matar minha carência, melhor beber.
Carência, sentimentozinho desagradável que faz parte da minha vida há três meses.
Aproveitei o momento do café para ler o meu jornal. A faxineira já havia deixado-o em cima do balcão da cozinha, estratégicamente.
Comecei a vasculhar os cadernos. Com a ressaca que estava, o que menos queria era ler sobre política, casos policiais, economia e esportes. Abobrinhas.
Fui direto para coluna social. Adoro. Pessoas legais, bonitas , festas super badaladas... e aquele monte de casal. Ver fotos de pessoas felizes e apaixonadas, que acreditam que o amor é pra sempre é péssimo quando se está sozinha, sentindo falta de um abraço.
Só queria alguém que me desejasse. Nem que por um único dia.
O caderno social foi deixado de lado. E bem embaixo estavam os classificados. Bem ali, olhando pra mim. E eles pareciam bem menos chato que as notícias sobre a lei seca e o governo.
Carros, motos, geladeiras, fogões, companhia, máquina de lavar roupa. Opa... volta: companhia?!
Dei uma passada de olho rápida para conferir se era verdade. E era! Comecei a me divertir com aquilo. Loiros, baixos, altos, morenos, japoneses, negros. Era homem para tudo que é gosto. Uns mais safados, outros bem tapados (esses eu pulei logo, não me converceram que eram bons de cama), uns bem quentes... Será?! Mas e se alguém descobrisse?
Gritei a Ângela, ninguém respondeu...
Um obstáculo a menos; a faxineira já tinha saído.
Pensei.
O que as minhas amigas achariam disso?
Ai, medo e curiosidade total!
Bom, eu não preciso contar... Selecionei o anúncio. O que me pareceu mais sensual.
"Moreno, olhos verdes, 1,82m. Pronto para te fazer ver estrelas. Corpo malhado e sensual. Pode pedir o que você quiser!".Reli umas 5 vezes. "Pode pedir o que você quiser" não saia da minha cabeça. Peguei o telefone. 9984...
Desliguei. Nossa, era muita insanidade mental. Não preciso disso.
"Pode pedir o que você quiser".
Será?
998419... Ai! 99841911... Chamou...
Minha barriga estava borbulhando e minha mão suava. Chamou mais uma vez.
- Alô
Uau! Que voz envolvente! Tive vontade de tirar a roupa só com aquele alô. Mas não respondi.
- Alô!
- É... oi...
- Oi (incrível como ele era seguro)
- Como você chama?
- Carlos
- É... vi seu anúncio... Tem a tarde livre?
- Na sua casa ou na minha?
- Na sua... Não! Na minha!
- Tenho
- 13h?
- Pode ser
- Rua Tomás Gonzaga, 75/702
- Ok! Até mais. Beijo.
Aiiii, que nervoso! Já sei: vou sair de casa! Ele vai chegar, ninguém estará aqui, o porteiro vai falar que sai e ele vai embora. Pronto. Mas... e se ele deixar recado com o porteiro? E se o porteiro perguntar o que ele quer comigo?
Nossa, que vergonha!
O jeito é encarar. Abri uma champagne.
Subi as escadas, minhas pernas tremiam. Enchi a banheira. Foi um banho super demorado, bebendo e aproveitando a espuma.
Escolhi minha melhor lingerie. Preta. Já ia abrir a porta assim... Ele sabe bem porque está aqui.
12:50h
Mais uma taça.
Cama pronta.
A campainha tocou.
Demorei 10 minutos para descer 10 degraus.
Abri a porta. Uau! Que homem lindo! E que olhar... Era tudo o que eu precisava: aquele olhar. Me senti desejada. Ele me abraçou, me beijou. Que pegada. Fiquei completamente envolvida, derretida. Ele falou no meu ouvido, me senti maravilhosa.
Aproveitei aquele momento e falei baixinho no ouvido dele:
"Pode pedir o que você quiser!"